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OS FRUTOS DA ORAÇÃO

Pai-nosso

OS FRUTOS DA ORAÇÃO

Ao longo da história humana, muito se tem falado sobre o dom da oração; de fato, não se pode pensar ou falar em Deus sem que tenhamos acesso a Ele, e a oração é um dos meios mais eficazes desse acesso. Porém, como defini-la se já tantos a definiram antes? Realmente, mesmo em meio a tantas definições, cada um que se põe em oração tem sempre uma experiência nova de Deus, pois o modo de ser vivido nesta experiência, divino-humana, ilumina nosso testemunho de fé, aumenta a graça santificante e faz Deus bem presente em meio à contingência que nos atinge.

Daí surge uma pergunta: como fazer para que a nossa oração seja eficaz, isto é, seja profundamente proveitosa? Ou, em outras palavras, seja atendida? A vida humana e suas manifestações é feita de encontros, permanências temporárias e quem sabe eternas. Quando ouvimos do Senhor pérolas como estas: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, para que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos”. (Jo 15,5.7-8); logo nos convencemos que mais do que pedidos, a oração é a base de toda comunhão perfeita com Deus, que nos criou para vivermos eternamente em sua presença numa convivência para além da finitude de nossa humanidade.

Então, vamos à eficácia e aos frutos de nossa oração. Segundo Santo Tomás de Aquino, “a oração é um desdobramento de nossas necessidades diante de Deus”. Desse modo, quando tratamos da oração pessoal, “as condições para a infalibilidade” dela, são as seguintes: “pedir por si, as coisas necessárias à salvação, piedosamente e com perseverança”.

“Além do aspecto impetratório, isto é, de pedido, diz-se que a oração [pessoal] tem ação meritória e satisfatória, pois nos alcança, respectivamente, o aumento da graça santificante e a expiação de nossas culpas, fazendo-se especialmente necessária: a) quando se cometeu pecado grave; b) quando há perigo de pecar; c) em perigo de morte”. Porquanto, “como observa Santo Tomás de Aquino, a boa oração deve ser humilde, fruto da confiança sobrenatural que é infusa pelo Espírito Santo”.

OS BENEFÍCIOS DA ORAÇÃO DO PAI NOSSO

O Pai nosso é a oração por excelência, mãe e modelo de toda oração, pois ensinada por Jesus, nosso Senhor e Salvador, nos faz participantes da filiação divina diretamente, uma vez que pedimos como filhos muito amados, como afirma São João: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato. Por isso, o mundo não nos conhece, porque não o conheceu. Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é. E todo aquele que nele tem esta esperança torna-se puro, como ele é puro”. (1Jo 3,1-3).

Quando se refere ao dom da oração, e o modo como fazê-la, o próprio Jesus nos ensina que a sua prática em si é vontade de Deus para nós; por isso, ele mesmo a praticou perseverantemente para realizar em tudo com sua vida a Vontade do Pai (cf. Lc 6,12-13;9,18-22;9,28-36;11,1-2;22,31-32;22,39-46;23,34.46). São Lucas quando trata do ensinamento de Jesus sobre a perseverança na oração, observa: “Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo”. (Lc 18,1). Ou seja, a oração é necessidade permanente para que tenhamos acesso aos bens eternos e à Fonte desses bens, Deus nosso Pai.

“Em seu Tratado Sobre a Oração do Senhor, São Cipriano observa que “se temos a Cristo como advogado diante do Pai para interceder pelos pecados, apresentemos Suas palavras ao pedirmos perdão de nossas faltas”. E tanto mais confiante se nos apresenta a oração do Senhor ao considerarmos que Cristo mesmo, que nô-la ensinou a orar, a escuta junto ao Pai, cumprindo o que diz o salmo: “Clamará por mim e Eu o ouvirei” (Sl 91,15). Acrescenta ainda São Cipriano que “dirigir-se ao Senhor com suas próprias palavras é fazer uma oração afetuosa, devota e familiar”. Daí dizer-se que ninguém conclui o Pai-nosso sem fruto algum, porquanto, como ensina Santo Agostinho, ele ao menos nos perdoa os pecados veniais”. (Enchiridion, c71; PL 40,265).

Ainda segundo São Cipriano, “Vontade de Deus é a que Cristo praticou e ensinou: humildade na vida, estabilidade na fé, veracidade nas palavras, justiça no agir, misericórdia nas obras, disciplina nos costumes, não saber injuriar, tolerar a injúria recebida, manter a paz com o irmãos, querer a Deus com todo o coração, amando-O como Pai e temendo-O como Deus, absolutamente nada antepor a Cristo, porque Ele também nada antepôs a nós; aderir inseparavelmente à Sua caridade, unir-se à Sua cruz com firmeza e fé, e, quando houver combate por Seu nome e honra, manifestar pela palavra e constância com que o confessamos diante dos juízes, a firmeza do nosso certame. Manifestemos, enfim, na morte, a paciência pela qual somos coroados: isso é ser coerdeiro de Cristo, isso é cumprir a vontade do Pai”.

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.

TU ÉS PEDRO…

Pedro, tu és pedra

A IGREJA É CRISTO E CRISTO É A IGREJA, JUNTAMENTE COM SEUS APÓSTOLOS, TENDO PEDRO À FRENTE DELES…

«Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja»

Cristo, ao instituir os Doze, «deu-lhes a forma dum corpo colegial, quer dizer, dum grupo estável, e colocou À sua frente Pedro, escolhido de entre eles». «Assim como, por instituição do Senhor, Pedro e os outros apóstolos formam um só colégio apostólico, assim de igual modo o pontífice romano, sucessor de Pedro, e os bispos, sucessores dos Apóstolos, estão unidos entre si»; pelo Espírito Santo que lhes foi dado.

Foi só de Simão, a quem deu o nome de Pedro, que o Senhor fez a pedra da sua Igreja. Confiou-lhe as chaves desta e instituiu-o pastor de todo o rebanho (cf. Jo 21,15ss.). «Mas o múnus de ligar e desligar, que foi dado a Pedro, também foi dado, sem dúvida alguma, ao colégio dos Apóstolos unidos ao seu chefe». Este múnus pastoral de Pedro e dos outros apóstolos pertence aos fundamentos da Igreja e é continuado pelos bispos sob o primado do Papa.

O Papa, bispo de Roma e sucessor de S. Pedro, «é princípio perpétuo e visível, e fundamento da unidade que liga, entre si, tanto os bispos como a multidão dos fiéis». “Com efeito, em virtude do seu cargo de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, o pontífice romano tem sobre a mesma Igreja um poder pleno, supremo e universal, que pode sempre livremente exercer».

«O colégio ou corpo episcopal não tem autoridade a não ser em união com o pontífice romano […] como sua cabeça». Como tal, este colégio é «também sujeito do poder supremo e pleno sobre toda a Igreja, poder que, no entanto, só pode ser exercido com o consentimento do pontífice romano».

«O colégio dos bispos exerce de modo solene o poder sobre toda a Igreja no concílio ecumênico». Mas «não há concilio ecumênico se não for, como tal, confirmado, ou pelo menos aceite, pelo sucessor de Pedro».

«Pela sua múltipla composição, este colégio exprime a variedade e a universalidade do povo de Deus; enquanto reunido sob uma só cabeça, revela a unidade do rebanho de Cristo».

Paz e Bem!

Referências: Lumen Gentium, 22-23.

a transfiguração do Senhor

SENHOR, É BOM ESTARMOS AQUI…

Jesus manifestou a seus discípulos este mistério no monte Tabor. Havia andado com eles, falando-lhes a respeito de seu reino e da segunda vinda na glória. Mas talvez não estivessem muito seguros daquilo que lhes anunciara sobre o reino. Para que tivessem firme convicção no íntimo do coração e, mediante as realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a divina manifestação do monte Tabor, imagem prefigurada do reino dos céus.

Foi como se dissesse: Para que a demora não faça nascer em vós a incredulidade, logo, agora mesmo, eu vos digo, alguns dos que aqui estão não provarão a morte antes de verem o Filho do homem vindo na glória de seu Pai (cf. Mt 16,28). Mostrando o Evangelista ser um só o poder de Cristo com sua vontade, acrescentou: E seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte alto e afastado. E transfigurou-se diante deles; seu rosto brilhou como o sol, as vestes se fizeram alvas como a neve. E eis que apareceram Moisés e Elias a falar com ele (cf. Mt 17,1-3).

São estas as maravilhas da presente solenidade, é este o mistério de salvação para nós que agora se cumpriu no monte: ao mesmo tempo, congregam-nos agora a morte e a festa de Cristo. Para penetrarmos junto àqueles escolhidos dentre os discípulos, inspirados por Deus, na profundeza destes inefáveis e sagrados mistérios, escutemos a voz divina que do alto, do cume da montanha, nos chama instantemente.

Para lá, cumpre nos apresarmos, ouso dizer, como Jesus, que agora nos céus é nosso chefe e precursor, com quem refulgiremos aos olhos espirituais – renovadas de certo modo as feições de nossa alma – conformados à sua imagem; e à semelhança dele, incessantemente transfigurados, feitos consortes da natureza divina e prontos para as alturas.

Para lá corramos cheios de ardor e de alegria; entremos na nuvem misteriosa, semelhantes a Moisés e Elias ou Tiago e João. Sê tu também como Pedro, arrebatado pela divina visão e aparição, transfigurado por esta linda Transfiguração, erguido do mundo, separado da terra. Deixa a carne, abandona a criatura e converte-te para o Criador a quem Pedro, fora de si, diz: Senhor, é bom para nós estarmos aqui (Mt 17,4).

Sim, Pedro, verdadeiramente é bom para nós estarmos aqui com Jesus e aqui permanecermos pelos séculos. Que pode haver de mais delicioso, de mais profundo, de melhor do que estar com Deus, conformar-se a ele, encontrar-se na luz? De fato, cada um de nós, tendo Deus em si, transfigurado em sua imagem divina, exclame jubiloso: É bom para nós estarmos aqui, onde tudo é luminoso, onde está o gáudio, a felicidade e a alegria. Onde no coração tudo é tranquilo, sereno e suave. Onde se vê a Cristo, Deus. Onde ele junto com o Pai tem sua morada e ao entrar, diz: Hoje chegou a salvação para esta casa (Lc 19,9). Onde com Cristo estão os tesouros e se acumulam os bens eternos. Onde as primícias e figuras dos séculos futuros se desenham como em espelho.

Paz e Bem!

Fonte: Do Sermão no dia da Transfiguração do Senhor, de Anastásio Sinaíta, bispo
(Nn.6-10: Mélanges d’archéologie ET d’histoire 67[1955],241-244)(Séc.VII)

Novíssimos

AINDA SOBRE A PARUSIA E O DEVIR HUMANO…

Viver com Cristo ressuscitado e em Cristo ressuscitado, é gozar de sua paz, é receber o seu Espírito Santo como os apóstolos o receberam do “sopro de vida” que o Senhor soprou sobre eles (cf. Jo 20,22). Ou seja, Cristo ressuscitado se une a nós e nos livra deste mundo, da atual situação em que ele se encontra, e de todo o mal, para testemunharmos que somente Nele temos a vida eterna. E é exatamente isso que Ele nos revela, somos filhos e filhas de Deus, por seu Espírito habita em nós (cf. Rm 8,14-17). E Deus, sempre presente, age por meio de sua Divina Providência, e assim somos assistidos e amados por Ele prontamente, mesmo quando não o percebemos. De fato, Deus cuida muito bem de seus filhos e filhas…

E aqueles que Deus protege, porque se põem debaixo de sua divina proteção pela obediência aos seus mandamentos, mesmo que percam alguma coisa neste mundo, lhes será restituído em dobro ou mais ainda, uma vez que a graça do Senhor supera todas as percas temporais; aliás, todas as coisas que existem naturalmente, existem em função do homem e não o homem em função delas; visto que todas as coisas só têm sentido por causa do homem; sem a existência humana toda a criação perderia o sentido de ser.

Desse modo, não nos apeguemos a nada e a ninguém, pois tudo o que existe naturalmente está destinado ao fim que lhe é próprio, isto é, se tornará pó, cinza, como a própria experiência existencial nos mostra… No entanto, o homem não é só matéria animada, mas “alma vivente”, um ser para o futuro eterno que o Senhor nos reserva como herança, que são os “novos céus e nova terra onde habitará o amor e a justiça” definitivamente.

Não há como duvidar, a razão para este mundo ainda existir, é o fato de o Senhor sustenta-lo com o poder de sua Palavra até que chegue o julgamento de todos os seres humanos, responsáveis pelo destino deste mundo e de si mesmos, em vista do devir. De uma coisa fiquemos certos, todos seremos julgados pelo que recebemos do Senhor: a vida; as leis naturais e as leis divinas; que nos foram dadas para regermos a nós e as outras criaturas aqui existentes.

Com efeito, a ordem (as leis) existe para que não haja desordem, para isto é preciso a obediência às leis postas a fim de que a justiça se cumpra e haja equilíbrio e paz entre nós. Pois Deus criou o homem em estado de graça para governar todas as coisas a partir desse estado de graça, isto é, em plena comunhão com Ele. Mas infelizmente o homem deixou entrar o pecado em sua vida, que consiste em não amar a Deus, desobedecendo a suas leis e mandamentos; e passou a governar todas as coisas a partir deste estado mórbido; o resultado é o que vemos hoje na face da terra, toda espécie de desiquilíbrio e maldade, e o encaminhamento do mundo criado a um fim trágico, ao caos.

Caríssimos, vivendo em meio à dualidade deste mundo, de que lado nós estamos? Lembram-se da parábola do joio e do trigo que Jesus contou (cf. Mt 13,24-30)? De fato, quem é batizado católico, vive a experiência da ressurreição de Jesus, pois é a primeira graça que o Senhor nos dá quando do nosso batismo, “nascer da água e do Espírito Santo”, ou seja, participar de sua ressurreição. Se falta o santo batismo, falta também o dom do Espírito Santo, pois, foi para isto que Deus nos criou, para sermos morada sagrada do Espírito Santo (cf. 1Cor 3,16; 6,19). Sem a presença do Espírito Santo, só a vida natural não nos é suficiente para fazermos a experiência da ressurreição do Senhor, é preciso nascer de Deus mesmo (cf. Jo 1,12-13) pela fé dom do Espírito Santo, e assim fazermos parte da nova criação. Porém, muitos receberam essa graça, mas, poucos são os que a vivem como deveria ser vivida.

Enfim, Como será a minha eternidade e a tua? Para obtermos essa reposta, precisamos perguntar primeiro: qual é o nosso grau de convivência com o Senhor aqui? Porque quem convive bem com Deus aqui, convive bem consigo mesmo e com os demais; mas, quem não convive bem com o Senhor aqui, também não convive bem consigo mesmo e nem com os demais, e isso se reflete no nosso devir. Porque se falta comunhão com o Senhor, não temos o Seu Espírito em nossa vida para nos conduzir à sua glória.

Então, vejamos a seguinte exortação do livro do Apocalipse sobre o devir humano: “Disse ele ainda: Não seles o texto profético deste livro, porque o momento está próximo. O injusto faça ainda injustiças, o impuro pratique impurezas. Mas o justo faça a justiça e o santo santifique-se ainda mais. Eis que venho em breve, e a minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim. Felizes aqueles que lavam as suas vestes para ter direito à árvore da vida e poder entrar na cidade pelas portas. Fora os cães, os envenenadores, os impudicos, os homicidas, os idólatras e todos aqueles que amam e praticam a mentira!”

“Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos atestar estas coisas a respeito das igrejas. Eu sou a raiz e o descendente de Davi, a estrela radiosa da manhã”. (Ap 22,10-16).

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.

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Seguindo o exemplo de Cristo, nos atiremos nos braços de Deus Pai, confiando em sua Infinita misericórdia…

Paz e Bem!

OS EXERCÍCIOS QUARESMAIS…

Quaresma

EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DA QUARESMAIS…

Fomos salvos por Cristo, como nos ensinou, São Paulo: “De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte”. (Rm 8,1-2). Todavia não podemos esquecer que o Senhor nos alertou contra as tentações existentes (cf. Mt 4,1-11; 26,41), para não perdermos a herança que recebemos do Senhor, que é a vida eterna; para as paixões desordenadas, apegos às coisas materiais e aos valores mundanos advindos do pecado.

Aliás, o Senhor nos ensinou que por sua Palavra já estamos puros, mas é preciso permanecer Nele, porque sem Ele nada podemos fazer de bom (cf. Jo 15,1-8). Assim, por sua presença permanente em nós, cumpriremos o Plano da salvação, que Deus Pai preparou desde toda a eternidade para aqueles que o amam. É como está escrito: “Há bem pouco tempo, sendo vós alheios a Deus e inimigos pelos vossos pensamentos e obras más, eis que agora Cristo vos reconciliou pela morte de seu corpo humano, para que vos possais apresentar santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai. Para isto, é necessário que permaneçais fundados e firmes na fé, inabaláveis na esperança do Evangelho que ouvistes, que foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu…” (Col 1,21-3a).

Com efeito, assim nos exortou São Paulo sobre a importância dessa permanência em Cristo Jesus: “Eis uma verdade absolutamente certa: Se morrermos com ele, com ele viveremos. Se soubermos perseverar, com ele reinaremos. Se, porém, o renegarmos, ele nos renegará. Se formos infiéis… ele continua fiel, e não pode desdizer-se” (2Tm 2,1-13). Por isso: “Toma por modelo os ensinamentos salutares que recebeste de mim sobre a fé e o amor a Jesus Cristo. Guarda o precioso depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós. Foge das paixões da mocidade, busca com empenho a justiça, a fé, a caridade, a paz, com aqueles que invocam ao Senhor com pureza de coração” (2Tm 1,13-14.22).

Ora, essa permanência em Cristo requer de nós uma conversão permanente, ou seja, conversão permanente significa pertencer a Deus e somente a Ele. Em outras palavras, é como ensinou São Clemente de Alexandria: “Arrependamo-nos; convertamo-nos da ignorância ao verdadeiro conhecimento, da loucura à sabedoria, da injustiça à justiça, da impiedade a Deus. [Porque] São numerosos os bens que daí derivam, como diz o próprio Deus em Isaías: «Esta é a herança dos servos do Senhor» (Is 54,17). [Pois] Não é ouro nem prata, nem o que os vermes corroem, nem o que roubam os ladrões (Mt 6,19), mas o inestimável tesouro da salvação. […] É esta herança que nos põe nas mãos o testamento eterno pelo qual Deus nos assegura os seus dons”.

“Este Pai que nos ama com tanta ternura exorta-nos, educa-nos, ama-nos e salva-nos incessantemente. «Sede justos», diz o Senhor. «Todos vós que tendes sede, vinde beber desta água. Mesmo os que não tendes dinheiro, vinde, comprai trigo para comer sem pagar nada. Levai vinho e leite, que é de graça» (Is 55,1). Ele convida-nos ao banho que purifica, à salvação, à iluminação […]. Os santos do Senhor herdarão a glória de Deus e o seu poder, «que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, o coração do homem não pressentiu» (1Cor 2,9) […]. (São Clemente de Alexandria (150-c. 215), teólogo «Protréptico», cap. 10).

Destarte, os exercícios espirituais quaresmais são todos os esforços de fé (oração, jejum, abstinência, obras de misericórdia, etc) que fazemos para permanecermos na justiça divina que nos veio pela morte e ressurreição de Cristo Jesus, pois ele, “Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade. Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve. E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem, porque Deus o proclamou sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque”. (Hb 5,7-10).

Paz e Bem!

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CONSAGRADOS PARA SERMOS LUZ DO MUNDO…

Caríssimos, irmãos e irmãs, hoje farei uma pequena catequese da alma consagrada a Deus, que significa da alma iluminada pelo Espírito Santo e conduzida por Ele à plenitude da santidade, da glória de Deus. Todos nós que fomos batizados estamos percorrendo a via do Espírito para atingirmos a perfeição do amor de Deus em Cristo Jesus. E Deus nos deu o exemplo de sua Mãe, Maria Santíssima, esposa do Espírito Santo; e também o exemplo dos santos e santas, que percorreram essa mesma via, como consagrados do altíssimo, e atingiram a plenitude da santidade que todos nós almejamos.

Ser consagrados para ser luz do mundo significa: não comungarmos com as obras infrutíferas das trevas (cf. Gl 5,19-21); pelo contrário, devemos condená-las abertamente por nosso modo de ser, de pensar e de viver em Cristo Jesus, realizando em tudo a vontade de Deus Pai. Para isto precisamos deixar que a luz divina, que nos iluminou no santo batismo e permanece conosco, continue iluminando todo o nosso viver, afugentando toda tentação e todo pecado que se levanta querendo nos tirar da vida no Senhor.

Pois foi isto que São Paulo, nos ensinou quando escreveu: “Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. Porque as coisas que tais homens fazem ocultamente é vergonhoso até falar delas. Mas tudo isto, ao ser reprovado, torna-se manifesto pela luz. E tudo o que se manifesta deste modo torna-se luz. Por isto (a Escritura) diz: Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará (Is 26,19; 60,1)! Vigiai, pois, com cuidado sobre a vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que aproveitam ciosamente o tempo, pois os dias são maus. Não sejais imprudentes, mas procurai compreender qual seja a vontade de Deus”. (Ef 5,10-17).

Com efeito, eis o que diz o Senhor: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus”. (Mt 5,14-16)

E confirmando essa doutrina do Senhor, eis o que escreveu São Paulo, à São Timóteo: “Tu, porém, homem de Deus, segue a justiça e a piedade, a fé e a caridade, a paciência e a mansidão. Combate o bom combate, conquista a vida eterna. Fala aquilo que convém e é conforme a sã doutrina”. (1Tm 6,11-12a; Tt 2,1).

De fato, nós fomos consagradas a Deus no santo batismo, para sermos morada permanente do Senhor já aqui na terra pelo seu Espírito Santo que habita em nós. Pois bem, foi isto que São Paulo escreveu aos Coríntios, dizendo: ”Ou Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço [o Sangue de Cristo oferecido em seu sacrifício de cruz]. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo”. (1Cor 6, 19-20).

Logo perguntamos, quais são as características ou propriedades das almas consagradas à Deus? Primeira propriedade da alma consagrada a Deus: depois do santo batismo, o corpo humano passou a ser morada permanente de Deus pelo seu Espírito que reside em todos os batizados; e, assim, como Cristo ofereceu seu Corpo em Sacrifício de amor ao Pai em expiação dos nossos pecados, de igual modo devemos oferecer os nossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, não nos conformando com as práticas nefastas deste mundo, mas renovando a nossa mentalidade para discernirmos qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito.

E como fazemos isto? Do jeito que São Paulo ensinou: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito amados. Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor. Quanto à fornicação, à impureza, sob qualquer forma, ou à avareza, que disto nem se faça menção entre vós, como convém a santos. Nada de obscenidades, de conversas tolas ou levianas, porque tais coisas não convêm; em vez disto, ações de graças. Porque sabei-o bem: nenhum dissoluto, ou impuro, ou avarento – verdadeiros idólatras! – terá herança no Reino de Cristo e de Deus. E ninguém vos seduza com vãos discursos. Estes são os pecados que atraem a ira de Deus sobre os rebeldes. Não vos comprometais com eles. Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade”. (Ef 5,1-9).

A segunda propriedade da alma consagrada a Deus é ter vida de oração: porque para nós que acreditamos no amor de Deus, oração é solução, pois tudo o que a humanidade alcançou até hoje o conseguiu por meio deste dom; é como o Senhor mesmo nos ensinou: “Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai. E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Qualquer coisa que me pedirdes em meu nome, vo-lo farei”. (Jo 14,12-14).

Terceira propriedade da alma consagrada a Deus: a perfeita obediência às Palavras de Cristo, para permanecermos como morada definitiva da Santíssima Trindade e assim amarmos Deus no próprio Deus e termos Nele a vida eterna: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada. Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou. Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito”. (Jo 14,23-26).

A quarta propriedade da alma consagrada a Deus: é viver a vida sacramental. A palavra Sacramento significa: sinal sagrando onde Deus opera diretamente realizando o seu Plano de Amor para a nossa salvação, ou seja, é Deus mesmo realizando a Sua Obra por estes sinais sagrados. Com efeito, os Sacramentos são os fundamentos da vida e da fé cristãs. Em suma, “os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão, origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da vida espiritual”. (CIC). Amém, assim seja!

Destarte, o Sacramento dos sacramentos é o Próprio Jesus no Mistério da Eucaristia, seu Corpo e Sangue, Sua Alma e Divindade, oferecidos em Sacrifício incruento em expiação dos nossos pecados e dos pecados do mundo inteiro. Então Jesus lhes disse: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu”. (Jo 6,53-58).

Portanto, ser consagrado a Deus é viver como filhos de Deus neste mundo, ou seja, fazendo em tudo a vontade do Senhor por palavras e por obras, como se expressou São Paulo em sua Carta aos Colossenses: “Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós. Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Triunfe em vossos corações a paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar um único corpo. E sede agradecidos. A palavra de Cristo permaneça entre vós em toda a sua riqueza, de sorte que com toda a sabedoria vos possais instruir e exortar mutuamente. Sob a inspiração da graça cantai a Deus de todo o coração salmos, hinos e cânticos espirituais. Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens, certos de que recebereis, como recompensa, a herança das mãos do Senhor. Servi a Cristo, Senhor. Quem cometer injustiça, pagará pelo que fez injustamente; e não haverá distinção de pessoas”. (Col 3,12-17.23-25).

“Senhor, queremos crescer como homens de Deus, queremos viver como um templo de santidade…” (Pe. Sílvio César).

“Paz irmãos, amor e fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. A graça esteja com todos os que amam nosso Senhor Jesus Cristo com amor inalterável e eterno”. (Ef 6,23-24). Palavra da Salvação. Glória a vós Senhor!

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.

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O SIM DE MARIA…

Imaculada

O SIM DE MARIA…

De todas as graças derramadas sobre a humanidade a maior e mais sublime delas foi e é o sim da Santíssima Virgem Maria, pois por este sim, Deus renovou todas as coisas, porque o sim de Maria é Jesus de Nazaré, o Messias, o Filho amado de Deus, que se fez homem pela ação do Espírito Santo, no seio virginal da santa mãe de Deus. Assim como Deus criou a primeira mulher, a virgem Eva, sem pecado num paraíso; também criou a Virgem Maria no Espírito Santo, a segunda Eva, também sem pecado; só que há uma grande diferença entre elas; a primeira Eva disse não a Deus, mesmo criada num paraíso com todas as condições para dizer sim a Ele; enquanto que a segunda Eva, Maria, também criada no ventre-paraíso de sua mãe Ana (cf. Jo 1,12-13), disse sim ao seu Senhor e Salvador: “Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. (Lc 1,38). Ou seja, Maria não teve nenhum diálogo ou contato com o mal, mas somente com Deus. Desse modo, pelo sim incondicional da Santíssima Virgem Mãe, Deus gerou o seu Filho, Jesus Cristo, e fez por ele nova todas as coisas.

Então, o que é o sim de Maria? É o sublime acontecimento que fecha e sela o Antigo Testamento com o cumprimento de todas as suas profecias; e por sua vez, abre o Novo Testamento com o Nascimento do Messias prometido, o Emanuel, isto é, o Deus conosco, o Cristo Senhor; o Rei que se sentaria eternamente sobre o trono de seu pai, o rei Davi; o Redentor nosso, e de toda a obra da criação, o Novo Adão. Assim, todos os acontecimentos do Novo Testamento até os dias de hoje, como plano salvífico do Senhor, começaram a partir do sim da Virgem Maria. Seu sim é o marco divisor da antiga e da nova criação; da antiga e da nova aliança; da queda e do soerguimento da humanidade; da vida temporal e da vida eterna.

Tudo o que Deus fez é bom, belo e eterno; e não vai ser o demônio nem sua vontade maléfica, que vai atrapalhar o desígnio criador e redentor do nosso Deus e Pai. A princípio, o mal conseguiu ludibriar Adão e Eva, mas ficou só nisso; porque com o advento do Filho de Deus feito homem, Novo Adão, no ventre da Nova Eva, a Virgem Maria, a humanidade conheceu o seu novo destino eterno, a salvação pela remissão dos pecados. Para isto, Deus deu o seu Filho Jesus em sacrifício vivo de expiação de todos os pecados da humanidade. E só perde este benefício quem não reconhece Jesus Cristo como Senhor e Salvador, Aquele que nos torna Um em sua Igreja, que é o seu Corpo Místico (cf. Cl 3,18; Ef 5,21ss), a parte visível do Reino de Deus neste mundo; fundada sobre os apóstolos tendo sua Santa Mãe entre eles, no Cenáculo no dia de Pentecostes (cf. At 1,12-14).

Desde então, a Igreja se mantém firme no propósito salvífico do Senhor, ou seja, ser o Sacramento universal da salvação, tendo no Santo Padre, o Papa (Pedro apóstolo, príncipe dos apóstolos), o regente escolhido por Cristo (cf. Mt 16,17-17; Jo 21,15-19) para conduzir suas ovelhas ao Reino dos Céus, sob a permanente assistência do Espírito Santo, tendo Maria (Nova Eva) como a mãe de todas as almas redimidas por seu sacrifício de cruz (cf. Jo 19,26-27).

Eis, a seguir, uma das mais belas meditações sobre o sim da Virgem Maria, feita por São Bernardo, em uma de suas homilias:

O mundo inteiro espera tua resposta ó Maria… (*)

Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem – tu ouviste – mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia. Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Todos fomos criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida.

Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés. E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.

Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, responde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e concebe a Palavra de Deus; dize uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna.

Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe. Que tua humildade se encha de coragem, tua modéstia de confiança. De modo algum convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessário é agora mostrar tua piedade pela palavra.

Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate à tua porta. Ah! se tardas e ele passa, começarás novamente a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. Eis aqui, diz a Virgem, a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38).

Paz e Bem!

(*) Das Homilias em louvor da Virgem Mãe, de São Bernardo, abade
(Hom. 4,8-9: Opera omnia, Edit. Cisterc. 4, [1966], 53-54)(Séc. XII)

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A HUMILDADE E A PAZ

Do livro “Imitação de Cristo” (Lib. 2, cap. 2-3) (Séc. XV)

Não te preocupes muito em saber quem é por ti ou contra ti; mas deseja e procura que Deus te ajude em tudo que fizeres. Tem boa consciência e Deus será tua boa defesa. A quem Deus quiser ajudar, nenhum mal poderá prejudicar. Se souberes calar e sofrer, verás certamente o auxílio do Senhor. Ele sabe o tempo e o modo de te libertar; portanto, entrega-te a ele inteiramente.

A Deus pertence aliviar-nos e tirar-nos de toda confusão. Às vezes é muito útil, para guardar maior humildade, que os outros conheçam e repreendam nossos defeitos. Quando o homem, por causa de seus defeitos, se humilha, então facilmente acalma os outros, e desarma os que estão irados contra ele. O humilde, Deus protege e livra; ao humilde ama e consola. Ao homem humilde se inclina; ao humilde dá-lhe abundantes graças, e depois de seu abaixamento eleva-o a grande honra. Ao humilde, revela seus segredos, e com doçura o atrai a si e convida. O humilde, depois de receber uma afronta, conserva sua paz: porque confia em Deus e não no mundo.

Não julgues que fizeste algum progresso se não te consideras inferior a todos. Primeiro conserva-te em paz; depois poderás pacificar os outros. O homem pacífico é mais útil do que o letrado. O homem dominado pelas paixões, até o bem converte em mal e acredita facilmente no mal. O homem bom e pacífico tudo converte em bem.

Quem está em boa paz não suspeita mal de ninguém. Mas quem é descontente e inquieto, com diversas suspeitas se atormenta: não tem sossego nem deixa os outros sossegar. Diz muitas vezes o que não devia; e deixa de fazer o que mais lhe conviria. Preocupa-se com as obrigações alheias e descuida-se das próprias.

Zela, portanto, primeiro por ti mesmo, e depois poderás zelar devidamente por teu próximo. Bem sabes desculpar e disfarçar tuas faltas, mas não queres aceitar as desculpas dos outros. Seria mais justo acusares a ti e desculpares teu irmão. Se queres que te suportem, suporta também os outros.

Paz e Bem!

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O TEMPO DO ADVENTO, TEMPO DE PENITÊNCIA E REPARAÇÃO, TEMPO DE CONVERSÃO E DE ESPERA, TEMPO DE GRAÇA…

A palavra “advento” quer dizer “o que está para vir”. O tempo do Advento é para toda a Igreja, momento de forte mergulho na liturgia e na mística cristã. É tempo de espera e esperança, de estarmos atentos e vigilantes, preparando-nos alegremente para a vinda do Senhor.

O Advento começa às vésperas do Domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e vai até as primeiras vésperas do Natal de Jesus contando quatro domingos.

Esse Tempo possui duas características: As duas últimas semanas, dos dias 17 a 24 de dezembro, visam em especial, a preparação para a celebração do Natal, a primeira vinda de Jesus entre nós. Nas duas primeiras semanas, a nossa expectativa se volta para a segunda vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, Salvador e Senhor da história, no final dos tempos. Por isto, o Tempo do Advento é um tempo de piedosa e alegre expectativa.

Origem

Há relatos de que o Advento começou a ser vivido entre os séculos IV e VII em vários lugares do mundo, como preparação para a festa do Natal. No final do século IV na Gália (atual França) e na Espanha tinha caráter ascético com jejum abstinência e duração de 6 semanas como na Quaresma (quaresma de São Martinho). Este caráter ascético para a preparação do Natal se devia à preparação dos catecúmenos para o batismo na festa da Epifania. Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor e passou a ser celebrado durante 5 domingos.

Só após a reforma litúrgica é que o Advento passou a ser celebrado nos seus dois aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, mantendo a tradição das 4 semanas. A Igreja entendeu que não podia celebrar a liturgia, sem levar em consideração a sua essencial dimensão escatológica.

Teologia do Advento

O Advento recorda a dimensão histórica da salvação, evidencia a dimensão escatológica do mistério cristão e nos insere no caráter missionário da vinda de Cristo. Ao serem aprofundados os textos litúrgicos desse tempo, constata-se na história da humanidade o mistério da vinda do Senhor. Jesus que de fato se encarna e se torna presença salvífica na história, confirmando a promessa e a aliança feita ao povo de Israel. Deus que, ao se fazer carne, plenifica o tempo (Gl4,4) e torna próximo o Reino (Mc1,15) . O Advento recorda também o Deus da revelação, Aquele que é, que era e que vem (Ap 1, 4-8), que está sempre realizando a salvação mas cuja consumação se cumprirá no “dia do Senhor”, no final dos tempos. O caráter missionário do Advento se manifesta na Igreja pelo anúncio do Reino e a sua acolhida pelo coração do homem até a manifestação gloriosa de Cristo. As figuras de João Batista e Maria são exemplos concretos da missionariedade de cada cristão, quer preparando o caminho do Senhor, quer levando o Cristo ao irmão para o santificar. Não se pode esquecer que toda a humanidade e a criação vivem em clima de advento, de ansiosa espera da manifestação cada vez mais visível do Reino de Deus.

A celebração do Advento é, portanto, um meio precioso e indispensável para nos ensinar sobre o mistério da salvação e assim termos a Jesus como referencia e fundamento, dispondo-nos a “perder” a vida em favor do anúncio e instalação do Reino.

Espiritualidade do advento

A liturgia do Advento nos impulsiona a reviver alguns dos valores essenciais cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza, a conversão.

Deus é fiel a suas promessas: o Salvador virá; daí a alegre expectativa, que deve nesse tempo, não só ser lembrada, mas vivida, pois aquilo que se espera acontecerá com certeza. Portanto, não se está diante de algo irreal, fictício, passado, mas diante de uma realidade concreta e atual. A esperança da Igreja é a esperança de Israel já realizada em Cristo mas que só se consumará definitivamente na parusia do Senhor. Por isso, o brado da Igreja característico nesse tempo é “Marana tha”! Vem Senhor Jesus!

O tempo do Advento é tempo de esperança porque Cristo é a nossa esperança (I Tm1,1); esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna, esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante das perseguições, etc.

O Advento também é tempo propício à conversão. Sem um retorno de todo o ser a Cristo não há como viver a alegria e a esperança na expectativa da Sua vinda. É necessário que “preparemos o caminho do Senhor” nas nossas próprias vidas, “lutando até o sangue” contra o pecado, através de uma maior disposição para a oração e mergulho na Palavra.

No Advento, precisamos nos questionar e aprofundar a vivência da pobreza. Não pobreza econômica, mas principalmente aquela que leva a confiar, se abandonar e depender inteiramente de Deus (e não dos bens terrenos), que tem n’Ele a única riqueza, a única esperança e que conduz à verdadeira humildade, mansidão e posse do Reino.

As Figuras do Advento:

Isaias

É o profeta que, durante os tempos difíceis do exílio do povo eleito, levava a consolação e a esperança. Na segunda parte do seu livro, dos capítulos 40 – 55 (Livro da Consolação), anuncia a libertação, fala de um novo e glorioso êxodo e da criação de uma nova Jerusalém, reanimando assim, os exilados.

As principais passagens deste livro são proclamadas durante o tempo do Advento num anúncio perene de esperança para os homens de todos os tempos.

João Batista

É o último dos profetas e segundo o próprio Jesus, “mais que um profeta”, “o maior entre os que nasceram de mulher”, o mensageiro que veio diante d’Ele a fim de lhe preparar o caminho, anunciando a sua vinda (conf. Lc7,26-28), pregando aos povos a conversão, pelo conhecimento da salvação e perdão dos pecados (Lc1,76s).

A figura de João Batista ao ser o precursor do Senhor e aponta-lo como presença já estabelecida no meio do povo, encarna todo o espírito do Advento; por isso ele ocupa um grande espaço na liturgia desse tempo, em especial no segundo e no terceiro domingo.

João Batista é o modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são chamados a também ser profetas e profecias do reino, vozes no deserto e caminho que sinaliza para o Senhor, permitindo, na própria vida, o crescimento de Jesus e a diminuição de si mesmo, levando, por sua vez os homens a despertar do torpor do pecado.

Maria

Não há melhor maneira de se viver o Advento que unindo-se a Maria como mãe, grávida de Jesus, esperando o seu nascimento. Assim como Deus precisou do sim de Maria, hoje, Ele também precisa do nosso sim para poder nascer e se manifestar no mundo; assim como Maria se “preparou” para o nascimento de Jesus, a começar pele renúncia e mudança de seus planos pessoais para sua vida inteira, nós precisamos nos preparar para vivenciar o Seu nascimento em nós mesmos e no mundo, também numa disposição de “Faça-se em mim segundo a sua Palavra” (Lc1,38), permitindo uma conversão do nosso modo de pensar, da nossa mentalidade, do nosso modo de viver, agir, etc.

Em Maria encontramos se realizando, a expectativa messiânica de todo o Antigo Testamento.

José

Nos textos bíblicos do Advento, se destaca José, esposo de Maria, o homem justo e humilde que aceita a missão de ser o pai adotivo de Jesus. Ao ser da descendência de Davi e pai legal de Jesus, José tem um lugar especial na encarnação, permitindo que se cumpra em Jesus o título messiânico de “Filho de Davi”.

José é justo por causa de sua fé, modelo de fé dos que querem entrar em diálogo e comunhão com Deus.

A Celebração do Advento

O Advento deve ser celebrado com sobriedade e com discreta alegria. Não se canta o Glória, para que na festa do Natal, nos unamos aos anjos e entoemos este hino como algo novo, dando glória a Deus pela salvação que realiza no meio de nós. Pelo mesmo motivo, o diretório litúrgico da CNBB orienta que flores e instrumentos sejam usados com moderação, para que não seja antecipada a plena alegria do Natal de Jesus.

As vestes litúrgicas (casula, estola, etc) são de cor roxa, bem como o pano que recobre o ambão, como sinal de conversão em preparação para a festa do Natal, com exceção do terceiro domingo do Advento, Domingo da Alegria ou Domingo Gaudete, cuja cor tradicionalmente usada é a rósea, em substituição ao roxo, para revelar a alegria da vinda do libertador que está bem próxima e que diz: Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto. (Fl4, 4).

Vários símbolos do Advento nos ajudam a mergulhar no mistério da encarnação e a vivenciar melhor este tempo. Entre eles há a coroa ou grinalda do Advento. Ela é feita de galhos sempre verdes entrelaçados, formando um círculo, no qual são colocadas 4 grandes velas representando as 4 semanas do Advento. A coroa pode ser pendurada no presbitério, colocada no canto do altar ou em qualquer outro lugar visível. A cada domingo uma vela é acesa; no 1° domingo uma, no segundo duas e assim por diante até serem acesas as 4 velas no 4° domingo. A luz nascente indica a proximidade do Natal, quando Cristo, salvador e luz do mundo, brilhará para toda a humanidade, e representa também, nossa fé e nossa alegria pelo Deus que vem. O círculo sem começo e sem fim simboliza a eternidade; os ramos sempre verdes são sinais de esperança e da vida nova que Cristo trará e que não passa. A fita vermelha que enfeita a coroa representa o amor de Deus que nos envolve e a manifestação do nosso amor que espera ansioso o nascimento do Filho de Deus. A cor roxa da vela nos convida a purificar nossos corações em preparação para acolher o Cristo que vem. A vela de cor rosa, nos chama a alegria, pois o Senhor está próximo. Os detalhes dourados prefiguram a glória do Reino que virá, ainda temos as velas de cor branca e verde, que lembram o nosso batismo e a presença do Espírito Santo em nossas almas; e a esperança da vida nova no Senhor.

Podemos também, em nossas casas, com as nossas famílias, mergulhar no espírito do Advento celebrando-o com a ajuda da coroa do Advento que pode ser colocada ao lado da mesa de refeição.

Paz e Bem!

Frei Fernando Maria,OFMConv.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Advento